segunda-feira, 3 de agosto de 2009

VOLTA ÀS AULAS EM MINAS NOVAS

A VELHA ESCOLA "GRUPO ESCOLAR ZÉ BENTO"


FICO VELHO E MUXIBENTO
MAS NÃO SAIO DO ZÉ BENTO.



Quando terminei o curso primário no Grupo Escolar Coronel José Bento Nogueira, que era a única escola da cidade (isto lá pelo ano de 1962), eram poucas as professoras "normalistas" que existia em Minas Novas, isto é, aquelas que haviam terminado o curso Normal para se habilitarem como "mestras".

A maioria das professoras, naquele bom tempo, era de servidoras leigas, ou seja, que havia freqüentado - no máximo - o curso ginasial na vizinha cidade de Araçuaí, ou mesmo, algumas delas como Dona Maria Lopes, segundo ela mesma afirmava, que não tinha terminado nem mesmo o primeiro grau, o que não lhe impedia, porém, de ser respeitada pela sua competência e pela insuperável capacidade de reger uma classe e de fazer com que seus alunos se alfabetizassem e, muito mais do que isto, que se tornassem pessoas de bem, trabalhadoras, honestas, bons filhos, exemplares pais de família e mães dedicadas.

Era um tempo em que a professora primária se desdobrava como MÃE, dona-de-casa, lavadeira, cozinheira, pedagoga, disciplinária, catequista, regente de classe, auxiliar de saúde, nutricionista e na comunidade era a vigilante que impunha respeito a toda pessoa, adulta ou criança, mesmo que ela não fosse ainda aluno daquela escola e estivesse em qualquer lugar, dentro ou fora dos limites do Grupo Escolar. Um simples olhar de uma professora, dirigida ao aluno, colocava-o atento e em posição adequada que não motivasse qualquer reparo ou oportunidade de repreensão ou admoestação.
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Na sala de aula levava-se em conta, para efeito de avaliação do desempenho do aluno, não só o seu conhecimento das lições, mas toda a vivência e relacionamento social, tomando-se em todos os detalhes o comportamento na escola, no recinto do lar, na igreja e nas relações comunitárias.
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Tudo o que se passava com o aluno, na sala de aula, nas ruas e no convívio familiar era motivo de preocupação e avaliação por parte da escola e da professora, sendo esta – na maioria das vezes – quem tinha o poder de resolver problemas caseiros e até íntimos, que tendiam fugir do controle doméstico.
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Ressalte-se que, não bastasse a exigüidade do espaço físico da Escola (10 salas), não havia suficiente pessoal de apoio administrativo, faltavam móveis e equipamentos, era enorme a carência de recursos de toda ordem como material escolar e material pedagógico, ninguém ouvia dizer, se existia ou não, merenda ou uniformes, nem cozinha, nem banheiro ou até mesmo água e luz elétrica, muito menos geladeira, liquidificador, fogão a gás e forno microonda, copiadora, impressora e computador como temos hoje.

E os salários? Além do fato de que as professoras quase que não tinham salários compatíveis com o tanto de hora que trabalhavam, só recebiam suas pequenas remunerações depois de passados vários meses, quando já estavam devendo muito além do que recebiam, pois tinham que comprar fiado nos estabelecimentos comerciais, tudo o que necessitavam para comer, para ajudar os alunos mais necessitados e para sustentar suas próprias famílias.

Mesmo assim, diante de tanto abuso, pobreza e sofrimento, as professoras não deixavam transparecer estas mazelas e faziam da escola um ambiente agradável e respeitoso onde o clima era de contentamento, de alegria, de civismo, de patriotismo e de camaradagem.

O Grupo Escolar não era cercado de muros, não havia muros ou grades e a maioria das portas nem mesmo tinha chaves e, portanto, ficavam abertas dia e noite sem sofrer qualquer dano. Os quadros, as gravuras, os mapas e os cartazes permaneciam constantemente perfeitos e conservados, sempre afixados nas paredes sem sofrer qualquer sujo, rabisco ou rasgão, podendo ser utilizados por vários anos e em diferentes classes escolares.

Qualquer pessoa que chegasse a0 recinto da sala de aula, mesmo não estado a serviço, em visita ou para tratar de qualquer assunto, era respeitosamente recebido – de pé – pela professora, ainda que não fosse uma autoridade, o que determinava a obrigatoriedade de que todos os alunos, também, ficassem de pé e em silêncio, em sinal de atenção, de respeito e consideração, assim permanecendo até que fosse dada a permissão para se assentassem novamente e cada um voltasse a cuidar da leitura ou dos trabalhos a que estivesse obrigado naquele momento.

As pessoas mais idosas, os policiais, as senhoras de qualquer idade e as autoridades eram todos tratados com absoluto respeito, em qualquer local em que estivessem naquele momento, mesmo se fora do ambiente de serviço.Quando, por motivo rotineiro, faltasse uma professora, fosse por apenas um dia ou durante um período maior, não havendo disponível uma eventual substituta, e para que a classe não ficasse sozinha e sem atividade, a diretora ou a secretária assumia o comando dos alunos e convocava, para o dia seguinte, a presença de uma mãe ou de outra pessoa reconhecida como responsável no meio da comunidade, para que ali ficasse de plantão, no cumprimento de tarefas simples, para rezar, fazer pequenas leituras, exercitar ditado de palavras, ensaiarem cantigas, hinos, trovas, poemas, conjugação de verbos ou para acompanhar a turma em pequenos passeios a algum lugar próximo da escola, ao que se chamava de "excursão".

Assim era que, as professoras mais requisitadas não podiam adoecer ou tirar licença para maternidade. Aposentar? ..., nem pensavam nessa possibilidade, pois a ausência delas colocava em risco o próprio funcionamento da Escola. E mesmo que houvesse muitas moças que desejavam estudar para se tornarem professoras, não existia oferta de curso de formação – Curso Normal, como se chamava – para suprir a demanda crescente de alunos.

Os colégios mais próximos que existiam, para onde iam estudar os minas-novenses mais afortunados, localizavam-se em Araçuaí, Diamantina, Teófilo Otoni, Itambacuri. Além destes locais, onde existiam os “colégios”, alguns alunos mais ricos iam estudar em Belo Horizonte, onde o custo de vida era proibitivo para os nossos padrões. Poucas, no entanto, eram as famílias que podiam custear a formação escolar dos filhos, os quais, com toda dificuldade, teriam de morar nessas cidades maiores e, por razões sabidamente naturais, a grande parte das pessoas que saiam para estudar acabavam não voltando mais para nossa humilde terra, por descobrirem lá fora suas novas vocações ou encontrarem nos centros mais desenvolvidos o ambiente adequado para a nova realidade de suas vidas.

Essa injusta situação permaneceu durante muito tempo e seus reflexos negativos podem ser observados ainda hoje, até mesmo no que se refere à estrutura familiar, de vez que houve dispersão de valores que poderiam ter sido agregados a favor de nossa comunidade e que se fixaram, por força dessas circunstâncias, em lugares distante onde passaram a frutificar, distantes do velho tronco ressecado e cada vez mais oco que, a duras penas, vem tentando se manter de pé e permitir que brotem novos galhos e novas folhagens.

Para corroborar estas minhas assertivas, acerca das ótimas professoras que passaram pela minha infância, recordo-me e passo a escrever, nos próximos dias, sobre os exemplos da ARTE DE ENSINAR, falando de pedagogas como Dona Maria Geralda Silva, Elisa Mota Borges, Elza César Badaró, Lilia Borges, Rosarinha Badaró Ramalho, Adir Sena, Neusa Sena Camargos, Augusta Gomes de Souza, Celina Chagas Coelho, Nilza Gomes, Vany Maciel e, principalmente, das irmãs: ZARINHA, MYRIAM e ZÉLIA as mais legítimas herdeiras do legado genético (DNA) de verdadeiras mestras, todas essas grandes minasnovenses que deixaram marcas indestrutíveis na minha formação e na memória histórica do GRUPO ESCOLAR CEL. JOSÉ BENTO NOGUEIRA .

Ainda bem que tiraram do nome dessa velha e querida escola o "coronel" aproveitando-se da oportunidade da mudança de nomenclatura para "Escola Estadual, deixando apenas o "José Bento" que, ainda assim, caso bem tivessem pensado, poderia ter mudado todo o nome, para um mais adequado a um educandário, homenageando-se , com justiça, a uma personalidade como "Dona Flora Brasileira Pires César", "Mestra Ritinha Gomes". "Dr. Francisco Martiniano", "Dona Olídia Nepomuceno Leite", "Dona Neide Freire", "Mestre José Gomes". "Saninha de Zeca", "Dona Maria Lopes", "Serviçal Gabrielzinho" ou "Serviçal Elias Evangelista", estes sim, a exemplo do Dr. Agostinho, que muito deram de si pela educação das crianças e da juventude de Minas Novas.

geraldo mota
(Minhas queridas irmãs,
DURVALINA e CONCEIÇÃO,
meninas que sempre estão em meu coração)

POEMA À TOA:"O AMOR"

(António Soares) *

"Não amo a cor dos olhos. AMO O OLHAR.
Não amo a brancura dos dentes. AMO O SORRISO.
Não amo o contorno dos lábios. AMO O BEIJO.
Não amo o formato dos braços. AMO O ABRAÇO.
Não amo o alongado dos dedos. AMO A CARICIA.
Não amo as curvas das pernas. AMO O ANDAR.
Não amo o volume dos seios. AMO O ACONCHEGO.
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E que bom não seja isto uma escultura
E seja apenas um poema à toa Porque não amo um corpo.
AMO UMA PESSOA. 
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Troque uma briga por um bom beijo!
Troque a indiferença por um pouco de atenção! 
Troque o medo pela ousadia !  
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O pessimismo por uma gota de otimismo!  
Um aperto de mão por um gostoso abraço! "-
(*) Das artes de escrever, para mim uma das mais sublimes é a poesia e, dentre os artistas da palavra, existem muitos que são excelentes e pouco conhecidos, principalmente no Brasil onde, entre tantos preconceitos, existe um grande preconceito em relação aos poetas.


O autor do poema acima, António Soares Amora, muito mais que perfeito e admirável poeta, é um dos maiores entendidos da Língua Portuguesa e respeitadíssimo professor de Literatura.

A respeito desse grande escritor e poeta, veja abaixo parte do que se publicou sobre ele:

“António Soares Amora e os Estudos de Literatura Portuguesa no Brasil: Nada mais inculto e vergonhoso do que não saber agradecer ou mostrar reconhecimento pela dedicação e labor de uma vida consagrada à cultura e às letras, estando bem vivo o homem alvo da homenagem.

Com efeito, um dos mais eloquentes sinais da maturidade cultural das sociedades e das instituições que a representam, é o de saber reconhecer o mérito dos membros que nela se nobilitaram com a distinção do seu trabalho e o exemplar perfil moral da sua conduta. Esse é o caso da mais recente distinção, depois de muitas outras já recebidas anteriormente, de que foi alvo um reconhecido professor brasileiro, devotado aos estudos de literatura luso-brasileira.

Trata-se de agradecer o dom de uma vida dedicada a uma nobre causa e, com isso, de potencializar o seu exemplo às outras gerações e à comunidade em geral. Numa palavra, iniciativas deste tipo só enobrecem quem as toma, ao mesmo tempo que prestam adequada justiça ao homenageado.
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Com este louvável espírito, para comemorar os 80 anos do Professor António Soares Amora, Prof. Emérito da Universidade de São Paulo, foi lançada, no final de 1997, uma obra colectiva em sua homenagem. Intitulada O Mestre (Homenagem das Literaturas de Língua Portuguesa), esta esmerada e apropriada edição teve a iniciativa e organização de Rodrigo Mendes Leal e Maria Helena Nery Garcez. Já o seu patrocínio coube à Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes de São Paulo, de que o homenageado faz parte activa como académico, bem como ao Centro de Estudos Portugueses da Universidade de São Paulo, cuja efectiva criação e dinamização a ele também se deve...

Nunca é demais celebrar a dádiva da vida de um professor que, atingindo os 80 anos, devotou a maior parte da sua existência modelar ao ensino e à investigação.”

J. Cândido Martins (Universidade Católica Portuguesa – Braga)

DIA DOS PAIS


Para o meu PAI...
(que se FOI, mas que continuará sempre o MELHOR !!!
Pai, te amo!

Te amo por tudo
E por nada do que me fizestes.
Te amo pelo que me ensinastes
E pelo que te ensinei.
Também pelas palavras que sempre
Quis ouvir de ti, amigo,
Sem, no entanto, jamais ter ouvido.

Te amo por cada minuto
Que passei a teu lado
E por cada lágrima
Derramada na tua ausência.

Te amo pelos abraços apertados
E me lembro de cada um,
Como se neles, aconchegado,
Eu fosse seu filho mais querido.
Pai, é tão simples te amar,
Basta me sentir em ti
E te ter em mim no coração.

SAUDADES !!!
REFLETINDO ...
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Um homem havia pintado um lindo quadro.

No dia de apresentá-lo ao público, convidou todo mundo para vê-lo.

Compareceram as autoridades do local, fotógrafos, jornalistas, enfim uma multidão. Afinal, o pintor além de ser um grande artista, era também muito famoso.

Chegado o momento, tirou-se o pano que velava o quadro.

Houve caloroso aplauso.


Era uma impressionante figura de Jesus batendo suavemente a porta de uma casa. O Cristo parecia vivo. Com o ouvido junto a porta, Ele parecia querer ouvir se lá dentro alguém respondia.

Houve discursos e elogios.


Todos admiravam aquela obra de arte.Porém, um curioso observador, achou uma falha no quadro. A porta não tinha fechadura.

Intrigado, perguntou ao artista.

- Sua porta não tem fechadura? Como se fará para abrí-la ?
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- É assim mesmo. Respondeu-lhe o artista.
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- Esta é a porta do coração humano....Só se abre pelo lado de dentro.






domingo, 2 de agosto de 2009

ALZHEIMER

VALE A PENA LER...

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR DO “ALEMÃO”, O BANDIDO?

(Seria bom se se pudesse nem pronunciar o seu verdadeiro nome: Alzheimer!)

A cada um (01) minuto de tristezas,
perdemos a oportunidade de
sermos felizes por 60 segundos!

Sobre o Alzheimer

Roberto Goldkorn
(psicólogo e escritor)


Meu pai está com Alzheimer. Logo ele, que durante toda vida se dizia 'o Infalível'. Logo ele, que um dia, ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: esternocleidomastóideo.

O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas, para mim, basta saber que ele esquece o meu nome, mal anda, toma líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóicos comuns nas demências tipo Alzheimer.

Aliás, fico até mais tranqüilo diante do 'eu não sei ao certo' dos médicos; prefiro isso ao 'estou absolutamente certo de que....', frase que me dá arrepios.

E o que fazer... para evitarmos essas drogas?

Como?

Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, criando novos circuitos neurais que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida 'bandida'.

Meu conselho: é para vocês não serem infalíveis como o meu pobre pai; não cheguem ao topo, nunca, pois dali só há um caminho: descer.

Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia, principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.

Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.

Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades: 7 de cada 10 doentes nunca ligaram para essas 'bobagens' e viveram vidas medíocres e infelizes - muitos nem mesmo tinham consciência disso.

Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro.

Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? (Hum... Preocupante).

Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade.

Parodiando Maiakovski, que disse 'melhor morrer de vodca do que de tédio', eu digo: melhor morrer lutando o bom combate do que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer.

Dicas para escapar do Alzheimer:

Uma descoberta dentro da Neurociência vem revelar que o cérebro mantém a capacidade extraordinária de crescer e mudar o padrão de suas conexões.

Os autores desta descoberta, Lawrence Katz e Manning Rubin (2000), revelam que NEURÓBICA, a 'aeróbica dos neurônios', é uma nova forma de exercício cerebral projetada para manter o cérebro ágil e saudável, criando novos e diferentes padrões de atividades dos neurônios em seu cérebro. Cerca de 80% do nosso dia-a-dia é ocupado por rotinas que, apesar de terem a vantagem de reduzir o esforço intelectual, escondem um efeito perverso; limitam o cérebro.

Para contrariar essa tendência, é necessário praticar exercícios 'cerebrais' que fazem as pessoas pensarem somente no que estão fazendo, concentrando-se na tarefa.

O desafio da NEURÓBICA é fazer tudo aquilo que contraria as rotinas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional.
Tente fazer um teste:

- use o relógio de pulso no braço direito;

- escove os dentes com a mão contrária da de costume;

- ande pela casa de trás para frente; (vi na China o pessoal treinando isso num parque);

- vista-se de olhos fechados;

- estimule o paladar, coma coisas diferentes;

- veja fotos de cabeça para baixo;

- veja as horas num espelho;

- faça um novo caminho para ir ao trabalho.


A proposta é mudar o comportamento rotineiro!

Tente, faça alguma coisa diferente com seu outro lado e estimule o seu cérebro.

Vale a pena tentar!


Que tal começar a praticar agora, trocando o mouse de lado?

Que tal começar agora enviando esta mensagem, usando o mouse com a mão esquerda?

FAÇA ESTE TESTE E O RECOMENDE AOS SEUS AMIGOS E FAMILIARES

sábado, 1 de agosto de 2009

IDADE IDEAL DE MATRÍCULA DA CRIANÇA NA REDE DE ENSINO

"ESCOLA ANTES DOS 3 ANOS É UM ERRO"

REVISTA ÉPOCA – Estudos dizem que as crianças devem ir para a escola quanto antes. Por que o senhor discorda?
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Steve Biddulph Bebês não foram feitos para ir à escola nem para ser cuidados em grupo. Eles crescem e aprendem melhor quando têm um ou dois adultos cheios de amor exclusivo. Minha pesquisa é clara nesse sentido: até os 3 anos de idade da criança, é a família que tem condições de interagir com ela para um bom desenvolvimento cerebral. Ou seja, com intensidade e sintonia. É assim que o bebê aprende a se aproximar e a criar empatia – e adquire o que chamamos mais tarde de “inteligência emocional”. A melhor hora de colocar a criança na escola é a partir dos 3 ou 3 anos e meio. O certo é começar com três manhãs por semana de jardim-de-infância, com atividades educativas. Isso é bem diferente de deixar a criança todos os dias numa creche de período integral.
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ÉPOCA Qual a importância da adaptação escolar no aprendizado da criança?
Biddulph – Estudos sobre estresse e níveis de cortisol no sangue mostraram que bebês na fase de aprender a andar sofrem o dobro de estresse quando são separados da mãe e inseridos numa creche. Foi constatado que por meses o nível de cortisol se mantém alto. Sabemos que cortisol elevado faz mal, porque atrasa o desenvolvimento do cérebro, atrapalha o sistema imune e até reduz o crescimento. Os estudos constataram que as crianças que aparentavam bem-estar, na verdade, permaneciam estressadas – elas aprenderam a esconder a emoção e a lidar com ela. É importante lembrar que, nessa fase, a idade e o preparo são cruciais. O que pode ser valioso e excitante para uma criança de 5 anos pode ser devastador e traumático para outra de 1 ano e meio. Desenvolvimento infantil é isso: a coisa certa na hora certa.
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ÉPOCA – Pesquisas demonstram que as crianças se desenvolvem melhor quando são estimuladas a ganhar independência. Como oferecer a elas essa oportunidade sem prejudicá-las?
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Biddulph – Dos 3 anos em diante, elas começam a brincar socialmente. Antes disso, elas na verdade vêem outras crianças mais como fontes de concorrência e ameaça que como companhia. Quem brinca com as crianças pequenas são as mais velhas ou os adultos. Você não vê bebês tomando conta uns dos outros. Eles apenas brigam. Forçar essa interação social pode atrapalhar o aprendizado, de acordo com estudos internacionais que acompanharam milhares de crianças. Eles descobriram um fator de risco triplo: as muito novas que vão à creche com freqüência e passam muitas horas ali se tornam agressivas, ansiosas e desobedientes. E perdem o vínculo com a mãe. É importante ver isso em perspectiva. O número de crianças “desajustadas” cresce de 6% (em lares de bebês criados em casa) para 17%, nesses casos. Os pesquisadores acreditam que provavelmente toda criança criada em creche é de alguma forma prejudicada. Mas não criemos pânico. Pôr seu filho numa creche não é crime, mas é uma opção menos valorosa.
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ÉPOCA – O que há de errado com as creches?
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Biddulph – Para algumas crianças, pode ser uma experiência triste e danosa. O que se aprende nos primeiros anos de vida é a socialização: como confiar, se sentir seguro e ser alegre. Esse aprendizado é precioso demais para colocá-lo em risco no ambiente caótico de uma creche, barulhenta, com crianças demais. As creches estão distantes da imagem idealizada que elas vendem. A equipe muitas vezes é desqualificada, e os profissionais mais atenciosos costumam estar ocupados e estressados. Ali, as crianças são tratadas como grupo e não podem ser amadas ou cuidadas individualmente. As interações amorosas que elas têm com a mãe e o pai centenas de vezes por dia acontecem menos de 20% do tempo na creche. Estudos com gravações em vídeo mostram que bebês nessa situação acabam desistindo de pedir atenção e tornam-se depressivos. Ficam quietos e aí são considerados bons bebês.
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ÉPOCA – Como pais que trabalham o dia inteiro podem dar atenção suficiente aos filhos pequenos?
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Biddulph – O direito à maternidade e à paternidade é uma questão de justiça social. Em algumas sociedades, como nas Filipinas e na África do Sul, os pais são forçados a viver longe dos filhos por razões econômicas. É muito triste. Essa é a tragédia da industrialização. Em todo o planeta, famílias têm sido devastadas por modelos assim. Na vida em comunidade e nas aldeias indígenas, as famílias ficam unidas durante o dia. Os avós são tão bons quanto os pais, e parentes fazem um trabalho melhor que qualquer creche na maior parte dos casos. É por isso que estou fazendo campanha. Até as pessoas mais ricas têm seu papel nessa mudança, pois dão o exemplo. Nos países ricos, são os ricos que põem suas crianças em creches e têm menos tempo para cuidar delas. As pessoas pobres detestam ficar separadas de seus filhos e tendem a preferir que um membro da família tome conta das crianças enquanto trabalham.
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ÉPOCA – O senhor está sugerindo que mães que colocam seus filhos em escolas os amam menos?
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Biddulph – A oferta de babás baratas para mães ricas nos países em desenvolvimento é uma tentação. Enquanto a mãe cuida da casa, a babá cuida do bebê. Como o bebê interpreta isso? Como se ele fosse tão importante quanto a faxina? Ser mãe ou pai não é coisa fácil: é algo para aprender. Se deixar a criança em uma creche for inevitável, os seguintes fatores devem ser levados em conta: quanto menos crianças por cuidador, melhor; equipe perene (para uma relação estável) e cuidadores bem pagos (para que eles se sintam bem ali). Minha pesquisa mostrou o efeito das horas em uma creche sobre as crianças. Até 1 ano de idade, não se recomenda creche por nem um minuto. Até os 2 anos, dois dias curtos (meio período) por semana. Até os 3 anos, três dias curtos por semana são aceitáveis.
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ÉPOCA Em seu livro, o senhor afirma que “tudo de que os bebês precisam é amor”. Como eles experimentam esse amor?
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Biddulph Amor tem a ver com tempo. Quando você vê um pai amável com seu filho de colo, o tempo escoa, parece lhe restar todo o tempo do mundo. A pressa é inimiga do amor, porque o corrói e destrói. Temos de combater isso para proteger pais e filhos do estresse. Quando somos amados, nossas emoções são apaziguadas. Há muita risada, música e cantoria. Aprendemos a nos recuperar do estresse rapidamente. É difícil tornar-se amável sem ter passado por essa experiência. E a melhor fase para sentir isso é na primeira infância, nos braços dos pais. É quando se desenvolve a parte do cérebro que ama: o córtex frontal, que reconhece um sorriso, aprecia um afago, vê o mundo como seguro e interessante.
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Steve Biddulph publicou obras como: Criando Meninos, O Segredo das Crianças Felizes, Momentos Mágicos com Seus Filhos, Filhos: Nossa Imortalidade e, o mais recente, Criando Bebês Felizes, em que condena creches para bebês.
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Estefânia Zica - Cabeça de Papel www.flickr.com/estefaniazica